Introdução:
Você já parou para pensar para onde vai toda a água que desce pelo ralo do banheiro, pela pia da cozinha ou pelo vaso sanitário? Por trás desse simples ato, existe um projeto técnico complexo e essencial: o projeto de instalações hidrossanitárias.
Neste post, vamos nos debruçar sobre o módulo sanitário, seguindo a NBR 8160 e baseado no material do Prof. Gilson Barbaya de Athayde Júnior (UFPB). Meu nome é Renan Dantas, e vou guiá-lo pelos conceitos, componentes e regras de dimensionamento para você dominar esse tema. Vamos lá?
O que é um Esgoto Sanitário?
De forma simples, o esgoto sanitário é toda água servida de uma edificação. Isso inclui a água de:
Vasos sanitários
Chuveiros e banheiras
Lavatórios (pias de banheiro)
Ralos
Tanques
Pias de cozinha
O projeto que gerencia todo esse efluente é regido pela NBR 8160/1999, a norma técnica que garante segurança, higiene e funcionalidade ao sistema.
Os "Personagens" do Sistema: Componentes Básicos
Um projeto sanitário não é feito apenas de canos. É um conjunto de elementos que trabalham juntos:
Aparelhos Sanitários: Os protagonistas (vasos, pias, etc.).
Ramal de Descarga: O tubo que sai diretamente do aparelho.
Ramal de Esgoto: Recebe a contribuição de um ou mais ramais de descarga.
Tubo de Queda (TQ): Conduz o esgoto verticalmente de um pavimento para outro.
Subcoletor e Coletor Predial: Coletam o esgoto dos ramais e tubos de queda e o conduzem para a rede pública ou sistema de tratamento.
Tubos de Ventilação: Os heróis invisíveis! Evitam a quebra dos selos hidráulicos (aquela água no fundo do ralo que impede o mau cheiro) e permitem a livre circulação de ar no sistema.
Caixa de Gordura: Retém gordura de pias e tanques, evitando entupimentos.
Caixa Sifonada: Uma armadilha que impede a passagem de gases para o interior da edificação.
Fossa Séptica e Sumidouro: Sistemas de tratamento primário para locais sem rede pública.
Como Dimensionar? O Método de Hunter
A norma apresenta dois métodos, mas focaremos no mais comum: o Método de Hunter. Ele atribui um peso, chamado de Unidade de Hunter de Contribuição (UHC), a cada aparelho. Somando as UHCs, consultamos uma tabela para encontrar o diâmetro mínimo do tubo.
Regras Práticas para os Tubos:
Declividade (Caimento):
Tubos de até 75 mm: declividade mínima de 2%.
Tubos de 100 mm ou mais: declividade mínima de 1%.
Mudanças de Direção:
Em trechos horizontais, use curvas de 45º.
Para conectar um trecho horizontal a um vertical (e vice-versa), você pode usar curvas de 90º.
E se a Soma das UHCs for Muito Alta?
Se a soma ultrapassar 160 UHC em um único ramal, a solução é simples: divida a carga! Crie mais de um ramal de esgoto para distribuir o volume de efluentes.
Dicas Especiais para Tubos de Queda (TQ)
Prefira sempre uma única prumada. Se for preciso desviar, use curvas de raio longo de 90º ou, idealmente, duas curvas de 45º.
Em prédios altos (mais de 2 andares), é crucial prever dispositivos para evitar o retorno de espumas de detergente para os andares superiores.
Nunca faça ligações na zona de sobrepressão do tubo de queda (geralmente na parte inferior). Isso causa refluxo de esgoto.
A Ventilação: O Pulmão do Sistema
Sem ventilação, o sistema não funciona. Ela equaliza a pressão interna, evitando que os "sifões" (selos hidráulicos) sejam sugados ou forçados para fora.
Ventilação Primária (VP): É a extensão do tubo de queda acima da laje de cobertura.
Ventilação Secundária (VS): São tubos ligados aos ramais de esgoto ou aos próprios aparelhos.
A saída de um tubo de ventilação deve estar a mais de 4m de qualquer janela ou 1m acima dela.
Em cada 8 aparelhos, recomenda-se instalar um tubo ventilador de circuito.
Em desvios de tubo de queda com ângulo maior que 45º, é obrigatória a ventilação.
Caixa Sifonada e Caixa de Gordura
Caixa Sifonada: Deve ter fecho hídrico (lâmina d'água) de no mínimo 20 cm. Seu diâmetro interno mínimo é de 30 cm e deve ser hermeticamente fechada com uma tampa pesada e removível.
Caixa de Gordura: Item obrigatório para receber efluentes de cozinhas e áreas de lavagem. Sua manutenção (limpeza) deve ser periódica.
Conclusão
Projetar instalações de esgoto sanitário vai muito além de conectar canos. É um sistema complexo que exige conhecimento técnico, atenção às normas (em especial a NBR 8160) e cuidado com detalhes que fazem toda a diferença, como a ventilação e as declividades.
Dominar o Método de Hunter e entender a função de cada componente é o primeiro passo para criar projetos eficientes, seguros e duráveis.
Gostou deste guia? Compartilhe com seus colegas! E fique de olho: em breve traremos os módulos de Água Fria e Águas Pluviais.
Autor: Renan Dantas da Nóbrega
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